quarta-feira, dezembro 01, 2010




E mesmo enlameado
não me faz segredos a água
um veio, uma fonte, um grotão 
das águas santas a me banhar

Água benta yayá!
que guarda corpo
em nuvens claras
faz-nos regar!

Esperança...
sê, diz crianças
no rio, entre lagos da bonança

Tontas lágrimas, tantas mágoas
secam lagoas e vinganças
da mesma ponte, nos transportar!

                          erhi Araújo

quinta-feira, novembro 18, 2010

 n c o r a s

Ao despir-se do naufrágio
Ao ouvir-se sobre as ondas
Teu silêncio... tal areia
Corre a boca dentro do mar,
Ouço a voz vir à sina

Ao sol põe-se o adágio
Ao vértice da criatura
Até o teu azul cobrir a aldeia
Um traço marinho
Enseadas, canoa, jangada e anzol!


Aos pés úmidos, seca flor de sal
Vens remando
o contrário

Ao cotovelo, ao sudário futuro
Vê-se por um caminho ou qualquer atalho
Aos segredos, às claras, a luz
Deite as pedras, contas... relicário
sopras as velas, há um porto afinal!


 n c o r a s
erhi Araújo

quarta-feira, outubro 20, 2010

Rumores

Quem há de nos caçar a ferros

se há sorte que nos disfarce

ou há morte que nos passe...

quem há de nos contar?

se tal face nos difere, não torce

que mau nos queira, aterro

e há de nos curar o corte...

encerro!



Rumores
erhi Araújo

domingo, outubro 17, 2010

ATERROS

Incômodos postais
Desce o sol contente
Sobre os medos ou desejos irreais
Retira-me, da pedreira a pedra
Que arde sob um céu mordente

Pedra furada que se parte em brasa
Concreta, fere e disfarça

Veste esse colo ardente
Serve em prato raso, minha fome
Solve a boca, quem te consome
E não me cospe como aguardente

Arames secam o mato e a fome
A prata, a pedra do descanso
Enchem os olhos d’água, das moças e dos mansos
O riacho do rio... que sequer vê a ponte

Misteriosos aterros, idas e vindas
Os bois, um trem, a bica d’água... boiadeiros.

aterros
erhi Araújo

quinta-feira, junho 17, 2010

Crase

colhi!
nesta flor é semelhante à que lhe dei
escolhi, mas
se, não irei à festa
obedecerei
às suas ordens, às avessas
voltarei!
mesmo às pressas,
não como cheguei!
arrisquei-me às vésperas
nem dormi nem deitei
sequer um braço a encostei
à janela desenhara seu rosto
e senti teu gosto,
e senti!
senti seus as.


Crase
erhi Araújo

quarta-feira, junho 16, 2010

Sobre as medidas

O operário
a contramão, o ordinário
a combustão
o naufrágio dentro do ginásio
a celebração!
a crença na diferença
o cubo de gelo, o novelo
o barro vermelho,
o mau-olhado
a devoção!
o estampido, o telhado
o ruído nas pedras
em timbres elétricos
a guarnição...
o enérgico
o estético peso de ouro
a regra sem pretexto
a montanha, o couro e o contexto
à sua imaginação!
aliança, verdades e fiança
tolos segredos à janela
sopras na rua com cautela
a sua embarcação!
o entender, o beber, o fazer
a panela, a tigela, o prazer
o acordo, a colher de comer o verbo
o certo ou o errado
sem direção!
nada, nada, nada...
nada pesa sobre as águas!


Sobre as medidas
erhi Araújo

terça-feira, junho 15, 2010

Tais costados

Punições
dentes e armas leves, calçado
o vento e a cruviana...
Deus seja louvado!

Multidões
em suma breve, trocados
nhá Salustiana,
deito dorso dourado!

Sertões
em vida agreste, o costado
sintética umburana
mais puro laço, debruçado!

Munições
entre tábuas que reges o emanado
entre as rinhas suburbanas
muros e dardos, afivelados!

Aparições
finas réguas de leques, encouraçados
à luz meridiana
ferros e pregos enferrujados!

Maldições
Em que pese esse ditado
velas, combalidas puritanas
só buchichos e apertos, sussurrados!


Tais costados
erhi Araújo

Zeladores da terra

A natureza das series humanas
e a pureza dos seres animais...

dos carros, dos aviões, dos amores
das raízes, das plantas, dos computadores
das cercas ao redor do umbigo
das águas que desperdiçamos, nem digo!
A nobreza das series humanas
e a destreza dos seres animais...

dos rios, das serras, dos mares
das chuvas que afogam os lares
dos morros aos quais derrapamos
das terras que ainda não aramos!
A frieza das series humanas
e a alteza dos seres animais...

do lixo que dispomos ao lado
do ar que nem cheira refrigerado
dos pássaros que rompem a neblina
entre uma cálida caldeira e a fumaça da usina!
A presteza das series humanas
e a crueza dos seres animais...

no barro que se conspira
no aço ao calor da ira
das faunas planetárias
ou das fontes orçamentárias!
A tristeza das series humanas
e a pobreza dos seres animais...

nas juntas de bois os falsos sertões
nas sujas panelas, poucos feijões
do eldorado a boa mão, irrigada
nos mercados, bolsões de quase nada!
A certeza das series humanas
e a riqueza dos seres animais...

Áreas verdes e a flora em temporada
mói a cana e sai à beira da estrada
muita gente depõe sem dizer nada
se a palavra, a pedra, o latim e o trem na disparada!
A clareza das series humanas
e a firmeza dos seres animais...

A natureza das series humanas
e a pureza dos seres animais...


Zeladores da terra
erhi Araújo

segunda-feira, junho 14, 2010

Códigos do outono

Sal, açúcar... pigarros
verbos transtornados
ocasos de mau gosto, refinados

Erguem-se à beira do abismo
alvos mortais, aforismos
das velhas almas, úmidas canduras
a derrama pôs ávidas doçuras

Sem sentidos, sem todos os mastros
entre os parênteses... seus atos
emproam-lhe a luz, ateus imediatos

Um olho ri e outro no pátio
o teatro... a comida sem pastos
entre os cães feridos, amordaçados
uma sala de luxo, um cinema, um hiato!


Códigos do outono
erhi Araújo

terça-feira, junho 01, 2010

Dístico

Um dia...
Dois enamorados
Um a sós
Dois divididos beijos
Um resfriado
Um novo
Dois fantasiados
Um reclame
Um motivado
Dois sentenciados
Um pranto à messe
Dois tantos revirados
Um manto, uma rede
Dois turvos
Uma fora da sede
Dois pentes
Uma fonte, a parede
Uma querência
Dois variados
Duas palavras e sem autores
Uma escola, uma folha
Dois na escória
Um... sem pudores
Dois na mesma fonte
Um quase defronte
Dois por dois perversos
Um por si, outro que rompe!

Dístico
erhi Araújo

terça-feira, maio 18, 2010

de seus laços

Uma linha apenada
duas pedras ferradas
uma mão desregrada
duas flores amareladas
uma palavra lascada
todos os olhos... a encruzilhada
uma boca flechada
duas vistas esfumaçadas
uma pista descarada
duas cores desbotadas
uma vida em ardores... costurada
duas promessas e unhas quebradas
uma lágrima desaguada
duas taças ensaboadas
uma fita betumada
duas páginas rascunhadas
uma medida recortada
duas e duas ...
uma face debochada
duas terras não aradas
uma carne empastelada,
uma e uma...
me resto a caminho.


de seus laços
erhi Araújo

sábado, março 13, 2010

Ante o que restou

As cores do céu
as flores noturnas
nos encantos de um véu azulado
e sobre os desejos
amores e turras...
um gesto, a repulsa
a toda sorte, à vida oculta
sobre beijos e laços mundanos
seco o sangue que lavamos
os mesmos odores
eu mesmo... réu!

Ante o que restou
erhi Araújo

Se por faltar

Quais princípios
de tão próximos
ou de púrpura mágoa
espraiou-se até final da linha
dos primeiros panos
aos poucos humanos
traz anseios e demandas
réquiem na primeira estação
na dormente fantasia
dos cigarros de luxo aos pés da ironia
tragam sem medos
Âncoras os agonias!
- nebulosas batalhas
somem, chegam ou esquecem...
convertem um rosto e amargura
a todos desde o princípio
e em cores conflitantes, se apropria...
- Juro não consumar mais em poesia.

Se por faltar
erhi Araújo

sexta-feira, março 12, 2010

Securas

É pau, é pedra,
é mais ardor sem carinho...
Por atalhos é regra
sem passado ou caminho
aos enganos das glórias
seu nome no pergaminho
o desperdício à calçada
à beira, à margem uma pedra
o suor , um cantinho
de todo vício o pescado
o lema, o leme e o luar
o mantra e o lume de amor
só!
recado amassadinho.


Securas
erhi Araújo

o trem

O trem,
de princípio ao fim
toda intolerância ou indolência
e teus planos, entre vagões
vem...
a suma questão, o não crer
que o veredito é popular!
Que acorda e ouve
o sim,
os anjos e a natureza
em ardor, em pesar
o dedo!
A desistência, o domínio
o invento,
o calor, a colheita
a vadiagem,
o feminino e o intento
a decisão, o grito!
A Medina,
A proveta e o périplo,
Em riste.

O trem
erhi Araujo

sábado, janeiro 30, 2010

Do sujeito ao praticado

Ter vox, lugar, presença por ser

Olhos d’água e engenho ser

Comunhão, sã qualidade

Ter identidade ser

Natureza, ordem consistida ver

Protesto, pretextos e incestos...

Vir humano ser

Ciência, competência, consciência e ver

Nada. Ter nada ter

Tudo! Aos poucos ver

Mais do que letras e o que quiseres ver

Da felicidade, dos choros e dos tempos sem validade

Por casualidade... Ser Deus ser

Vidro de dúvidas objeta quase concreto

Que não vos cale, ter

Obra criada, casa caiada ver

Conceitos mais e mais defeitos

Ver um a cada ver

Ser alfabeto ser

Comentário, cio operário

Disco ou dardo ter

Gestos e frutos sujeitos a ser

Tão importante e relevante quão ler

Um corpo a corpo ser

Ser visto

Ter quisto

Ver sexo

Ter fluido

Ser nexo...

Crer!

Do sujeito ao praticado
erhi Araújo