quarta-feira, outubro 15, 2008

O sempre



amar,
quando se inscreve
o dia
trocando beijos
vasculhando olhares
se percebe a mesma alegria
ah! desse amor
que se me cobre o peito
o sempre... é poesia
resto sol
resto mar
resto ventre
manifesto penso...
quem varria esse andar?

erhi Araújo

terça-feira, julho 01, 2008

S A U D A D E S

Raios

quase sem ensaios



uns poucos assustam as pedras

nem atende as nossas vontade


se nos ajustam às regras

vir pôs, estes caminho...


recolhe-me ao ninho, meu canto

revoo!

coa-lhe nos tempos


o caminho, o traço, os espinhos

tortos, de todos os momentos

em qual sorri !


S a u d a d e s
erhi Araújo

quarta-feira, junho 18, 2008

Um talho

Se mais tarde
uma palavra distrair
e seguir atalhos
vê o dia ao cair
da pele nua em frangalho,
depôs da carne fria, os retalhos
vir além dos próprios olhos...
a messe, a grua, a luz!

Um talho
erhi Araújo

terça-feira, junho 17, 2008

Promessas

No mar
distante dos olhos negros
recortava-nos curvos, frios
caminhos de areias e veredas nos canaviais
das palmas a lida de seus fiéis
a vida, que vi deste tempo sem mãos
pedia-nos contrito, sem olhar, submissos...
a pena, de ouvir sem contemplar
orações, implorações daqueles dias
por isto! desamparado, indigitado
de tão estranho espetáculo
num instante, o fim...
resta-nos a moeda luzidia, redonda
e o que nos há de custar!

Promessas
erhi Araújo

quinta-feira, junho 12, 2008

Tábua


Enegreci!
o sal da escravatura
ao cair pondo sol a toda urbanidade
que julgara mestra qualidade,
preto, velho em tanta agrura
fez ardor, fez saudade...
do azul do mar aos céus
raios, estrelas, tempestades
durante a travessia
da infância mágica ou da casa que vivia
nunca vir essa aurora,
nem flores, nem laços, verdades
dos tontos anos e cruas horas
pá de cal, sepultura...
dádiva senhora.

Tábua
erhi Araújo

segunda-feira, junho 09, 2008

Retalhos

A promessa,

parte que sequer retiras de mim

a mão, o lugar, as melindres, o coração

alguma coisa em questão,

o encontro, um par

que dá contas de sua parte

me tira os pés

no jardim...

caem folhas... folhas secam

queres! mas queres assim

um beliscão que sobre a pele

a cicatriz de mão

escrita

me consome... sedes enfim!



Retalhos

erhi Araújo

quarta-feira, junho 04, 2008

Outono


Ente desajeitado

infinito, existente por si mesmo

teu corpo...

que enche bem amado

assim único de tudo que existe!

Outono

erhi Araújo

sexta-feira, maio 30, 2008

Lágrimas

Águas

juiz de bodas e fragilidades

Tábuas

quis tolas facilidades

Mágoas

raiz em todas as felicidades

matinais

digitais

vegetais...

tábuas, mágoas...

que sobe às águas

vão!... navegam tais ansiedades.


Lágrimas

erhi Araújo

Acordos

Amor... se comporta

me completa

traz da felicidade

um torpor dessa húmida procura

diz alguém!

quanto ao amor... mais próximo tens

manias, preceitos e vícios

pesa mais sobre mim

um verniz...

e o calor te contem!


Acordos

erhi Araújo

quarta-feira, maio 28, 2008

Folhas II

Sem querer, sem dizer

trago as escondidas uma vontade

como folhas dispostas ao vento

silêncio e um vento à solta

sopram um tema... quer saber!

sempre errei sem viver

meu traço ferido, vaidades

secas as folhas, respostas, verdades

insenso, o tempo à toa

eis o poema... você!


Folhas II

erhi Araújo

terça-feira, maio 06, 2008

Acentos

Pontas do presente e lençóis do passado

dá esperanças inúteis às lembranças inevocáveis

dos arteiros do tempo... ultraje,

a humildade nos prantos

nos regimes e na linguagem,

a verídica vantagem

dás! autonomia em haver

nas afirmações primeiras do ser

suma crística imagem

acentos... e só!

sedes, aristocrática linhagem!


Acentos

erhi Araújo

quarta-feira, abril 30, 2008

OUTEIRO

passos ao rés do solo

corres montes e vales, ainda que lentamente

sem instintos, zela

inscreve sobre a terra

separa os grãos, volve a tela

compaixão...

sem miniaturas vernaculares

fontes, outeiro

buscas as coisas do alto

cores pontes e lares, andas longamente

sem destino, velas

borralheiras... rente a serra

aviam pão, escolhe a mais bela

uma flor,

desce o canteiro

lustras outono aos saltos

ou sobre as pontas dos pés!


Outeiro

erhi Araújo

quinta-feira, abril 03, 2008

Enchentes

Agora você não precisa imaginar mais

A Anna rosa de Hiroshima
mulher exótica que contamina
a costa azul, a vista bela
que o mar e o lago faz sentinela
na terra em transe

água quente, água fria, água mole, água dura
água corre... sem rio sem ter bacia

agora você não precisa imaginar mais...

quem nos dá o que comer
quem nos dá o que beber ( água de beber camará!)
o caminho só poeira
que caminho, que viagem
sem roda, secas vidas da estiagem

água quente, água fria, água mole, água dura
água escorre... sem rio sem ter bacia

agora você não precisa imaginar mais

num fio d’água, fonte e lagoa
aglomerados, palafitas, dó e canoa
gente a nascer
desnutrição, num forte laço
lixo, despachos e todo inchaço...


água quente, água fria, água mole, água dura
água morre... sem rio sem ter bacia

agora você não precisa imaginar mais

a maresia do ó sem piedade
o leito um só, necessidade
rio abaixo, seus afluentes ou lago acima
água ansiosa de queres servil
fala a vaidade! Não tem mais rio!

agora você não precisa imaginar mais

A Anna rosa de Hiroshima
mulher exótica que contamina
a costa azul, a vista bela
que o mar e o lago faz sentinela
na terra em transe...


água quente, água fria, água mole, água dura
água escorre... sem rio sem ter bacia

água quente água, água fria mágoa, água um gole cura
água branca água, doce água boa, água que chove pura
só um lugar assim
limpo e debaixo d’água
posso dizer enfim, salve todas as águas!
santas e purificadas...

água quente, água fria, água mole, água dura
aguardente, água de pote, águas que lavam as dentaduras
água benta, que desce a pia, água das almas
sem afluentes, sem cortesias
água que vertem, os olhos d’agua
o rio das moças, sem ter bacia

Enchentes


erhi Araújo

quarta-feira, abril 02, 2008

As folhas

O amor fala...
que tens a perder
numa folha, até numa linha
num livro pode caber.

Possas sãos versos
se curto, escrever
não importa!
o tempo, o tema, as horas...
um poema como você

Há que se deixar
escutar, descobrir ou quem sabe, crer
faz, úmida verdade
sem querer, sem dizer
traz consigo a saudade!..

deste amor, quem te fala
rasgas os céus pra viver
como bolhas sobre o orvalho, as vinhas
canta, o lírico...
que os meus hão de ser

Prosas num verbo
o rústico prover
das folhas dispostas
ao vento, um lenço, as sobras
um dilema...um torcer

O que amar...
ensinar, sorri e quem sabe, escrever
buscar sem vaidades
e merecer e, conviver
paz, carinhos e saudades!


As folhas

erhi Araújo

segunda-feira, março 03, 2008

Meia-hora

Pudestes se num momento

quem soubesses, o tormento

o vagar, o correr desse olhar

se coubesse radiante,

dos ensaios que doravante

iluminados, adormecidos

enfraquecidos, pequeninos por instantes...

sem calor, sem espaço

a madrugada de pavor

um passo...

desencontros, quanto sou?

me permites,

colher na aurora

orvalho, sonhos e elos

tão juntinhos, paralelos

uma via, um desejo e a vista

vão-se embora...

toda à luz

generosa, prateada quase ouro!

não me vês...

amarelo.


erhi Araújo

sexta-feira, fevereiro 08, 2008

Balaios


É dia
teus olhares, o ouro
nos colares, meu couro
lendas dos moços que sopram os coqueirais.

Em arrobas, outras moedas
sinceridades quietas,
tantas cinzas na gema-festa
flora tal se fevereiro...
teu anel, sois fiscal de terreiros.

É dia...
dos riso incautos, dos deleites
dos leitos cruzados
das feira, das fontes
das bolsas, dos rios sob as pontes
dos mil-réis insanos
dos pés dependentes, dos decanos
quem coroa a razão alimentícia
cooperativa, sexual ou mística
da lúdica, vaidade pública, milícia
das roda-saias, na renda bruta mensal...
delícia!

Balaios
erhi Araújo - REVÔO, coletânia de Versos & textos, Art-Contemp- Salvador . Bahia 1994