terça-feira, março 10, 2009

C I C A T R I Z

Língua, fala-me

por tardes e diz

se quiséssemos definições na poesia,

poesia de um corpo

poderíamos chamá-la

sã liberdade, que abracei!

sou no teu corpo, sujeito natural

tela, escultura, parede,

sepulcro, prisão e berço

fetiche, memórias, objetos

espectador imparcial

O silêncio, muito ambíguo

a presença, a cobiça, o rompimento proposital

dos suspeitos, encarnado a sua língua,

poética e sem roupa, a míngua

no passo, assenta cadeiras e saltos

a sustentar o poema... pratarias e a indigência

é a superfície que a palavra escrita
sabe qual réstia de luz

dá forma aos vazios, aponta o nariz

quis a sombra que teu olho

a noite afunde os traços, e diga

o jogo, os amores escuros castiços

nos corredores...

os traços sem luz!



cicatriz
erhi Araújo

quinta-feira, março 05, 2009

M u l h e r e s

Quem pediu socorro...

a esperança

contando seus dramas

ou, quem sabe somente um conselho

do mundo vem

seus dramas, suas perdas e suas dores

e sempre trata de alguém,

do apego, da posse, da ilusão

ou talvez a dor e a tristeza

a alma, o sossego, a origem, a neblina, o horizonte

o caminho e a história...

a bagagem, a escolha, os olhares

suma sábia simplicidade

a aura, o campo, a crítica, a mão

de muitos anos pra aliviar as dores

os parvos senhores

uns trapos, um trago, compaixão, paciência...

contra as ilusórias aparências

um coração que perto de tudo resiste

a moda, a boca, o chiste

tontas desculpas e coragem...

dá compaixão!


M u l h e r e s
erhi Araujo

quinta-feira, fevereiro 19, 2009

S a t é l i t e

Dois homens te beijam

te querendo trocar paternidade

dois homens, te deixam

padecendo, lustra-te vaidades

dois homens te deleitam

carecendo, suga-te natalidade



Dois homens te queixam

devendo corar-te a fraternidade

dois homens te deitam

te merecendo alcançar, humanidade

dois homens bracejam

parecendo coar-lhe a solidariedade



Dois homens te espelham

dizendo forrar-te a virilidade

dois homens... que desejam

um oferecendo olhar, outro liberdade

dois homens que te desvendam



Dois homens que arpeiam

Temendo, te abrasar necessidades!


S a t é l i t e
erhi Araújo
Prêmio Dival Pitombo de Poesias de Feira de Santana/ Funlac 1995